Chloe concedeu uma ótima entrevista, onde fala mais um pouco sobre Cameron Post, trabalhar em cinema italiano e francês e também sobre sua participação na nova animação da Familia Addams. Confira traduzido a seguir!
Depois de uma década em ativa e um versátil corpo de trabalho por trás dela, incluindo filmes como Kick Ass, If I Stay e Carrie, Chloë Grace Moretz esteve dando um tempo nas atuações. Ela quis ter tempo para refletir sobre as escolhas de seus filmes; para garantir que os projetos que ela estivesse realizando tivessem significado no mundo real, fora dos números de bilheterias e do preenchimento da filmografia.
Então, ela ouviu sobre The Miseducation of Cameron Post: um filme indie que tem um orçamento de menos de um milhão de dólares, mas muito coração para compensar isso.
Dirigido e co-escrito por Desiree Akhavan (Appropriate Behavior, The Slope), o drama independente segue uma adolescente em um centro de terapia de conversão isolado após ser pega beijando sua amiga na noite do baile em 1993. Para Moretz, cujos irmãos são gays, assinar para interpretar Post foi algo sem esforço.
Tem sido pouco esforço para cinéfilos também. Desde a sua finalização, The Miseducation of Cameron Post levou para casa o cobiçado Grand Jury Prize in Drama, em Sundance, foi exibido em vários festivais incluindo Tribeca e Outfest, e está prestes a estreiar em 3 de Agosto. Em preparação para o filme, Moretz e seus co-stars Sasha Lane e Forrest Goodluck conversaram com os sobreviventes da terapia de conversão, incluindo Mathew Shurka. Juntos, eles continuaram a fazer campanha para encerrar a prática por meio da iniciativa #BornPerfect.
Conversamos com Moretz sobre quem conta histórias sobre queers, cinema político e no que ela trabalhará em seguida.A eleição de Trump ocorreu durante as filmagens de Cameron Post. Como foi o ambiente no set?
Foi angustiante. Foi muito difícil de processar. A tristeza e o luto que sentimos ao perder, potencialmente, nossos direitos. Foi realmente Desiree quem, especialmente naquele dia, realmente se levantou e disse: “Sim, chore. Sim, lamente. Vamos ficar juntos. Mas, ao mesmo tempo, vamos dar um passo à frente e lembrar que estamos aqui neste set. A coisa mais importante que podemos fazer é fazer esse filme para as pessoas aprenderem o que é terapia de conversão; usar a arte como uma forma de rebelião contra esta administração.
Enquanto sobre o tema da arte, eu queria perguntar-lhe sobre a arte do humor. O filme Cameron Post é ambientado no mundo real da terapia reparativa, mas também está muito interessado em usar o humor para expor o absurdo e a hipocrisia desses programas.
Completamente. É porque é uma história sobre pessoas queer, para pessoas queer. A diferença está em ser uma adaptação por pessoas que enfrentaram confusão sobre sua sexualidade versus alguém que não – você não se vê como uma vítima quando está na comunidade. Você não passa todo dia indo, oh meu Deus, oh boo-hoo. Não. Você escolhe a sua vida e é a sua vida. Você tenta superar os obstáculos à sua frente. O filme não se concentra na terapia de conversão, mas nas belas complexidades das relações interpessoais de crianças gays que estão conhecendo crianças gays como eles pela primeira vez, e como isso é revelador para elas.
Essas histórias só devem ser escritas, dirigidas e contadas por pessoas queer. É um sentimento diferente, e é um sentimento que você só pode entender e escrever completamente se você já fez parte disso – se você sabe como é essa adversidade e como é essa pergunta em sua mente.
O filme é silencioso no sentido de que não é pesado em diálogos. Tudo é subtexto, pensamento, momento e opinião. Você lentamente formula suas idéias e é uma luta interior.
É reconfortante ouvi-la dizer que os contadores de histórias queer contribuem de maneira ativa, e não incidental. Muitas vezes, filmes que são “feitos por, feitos para” – e muitos que não são – tentam vender a história como sendo universal, que “amor é amor”, que é uma história para todos. Cameron Post não nega nem pede desculpas pelas suas raízes.
Sim, claro, é uma ideia universal de luta. Aliados da comunidade LGBTQ+ no cinema frequentemente entendem errado: você não é um salvador. Você é apenas uma mão amiga. Mas não é sua história. Não se aproprie da luta de outra pessoa, porque isso é um problema tão grande quanto ser um fanático.
Esta é uma linha que você teve que aprender a andar sozinha ao aceitar projetos como esse?Definitivamente. Eu sabia disso muito bem, graças a ter crescido com dois irmãos gays. Muitas pessoas dirão: “Oh! Eu posso me identificar.”. Mas não, você não pode se identificar. Eu não preciso que você entenda a luta; Preciso que você reconheça e entenda que é uma coisa real, sou uma pessoa real, tenho sentimentos, esta é minha vida.
Você tem essa cena impressionante em que sua personagem, que é bastante estóica, experimenta seu primeiro colapso enquanto se esconde debaixo de uma mesa, usando um telefone com fio na Promessa de Deus. O dispositivo quase aumenta a sensação de ela estar presa.
Eu acho que a falta de tecnologia realmente ajudou o filme; isso era algo importante sobre mantê-lo em 1993. Não precisávamos nos preocupar com celulares. E isso definitivamente contribuiu para o isolamento da Promessa de Deus.
As cenas finais do filme encontram Cameron, Jane e Adam encarando a possibilidade de deixar a Promessa de Deus. Onde você vê Cameron indo após os créditos finais? Onde ela pode estar hoje?
O que Desi e eu frequentemente falamos é que este filme é realmente uma prequel das realidades dos jovens LGBTQ+ sem-teto na América, o que é uma questão enorme e massiva. Isso é o que este filme é! É um prequel para os problemas que temos hoje: escolher a falta de moradia em detrimento do ostracismo.
Você tem enxarcado seus pés internacionalmente, com Olivier Assayas no maravilhosamente subtextual Clouds of Sils Maria e, mais recentemente, no remake do terror Suspiria, de Luca Guadagnino. Como tem sido trabalhar fora de Hollywood?
Tem sido muito bom sair do cinema americano e ver a diversidade do cinema francês e italiano, e também ver o empoderamento das mulheres e a representação da humanidade nesses filmes – e a qualidade sem idade de suas estrelas! Eu trabalhei recentemente com Isabelle Huppert e Juliette Binoche. Isabelle está na casa dos 60 anos, mas ela é uma das pessoas mais jovens e cheias de vida. Ela está constantemente aprendendo, estudando e pegando informações ao seu redor e absorvendo-as. Na França, as mulheres são respeitadas em diferentes níveis. Eles não veem as mulheres como tendo o “relógio da hora” como fazem nos Estados Unidos. Tipo, “Oh, você passou do seu auge. Você não é mais especial. Você não é mais bonita.”
Você está retratando outro ícone cult, Wednesday Addams, em um próximo filme animado. Acho que vários de nós se relacionam com o quanto ela é desinteressada, perturbada e seca; um tipo de prelúdio para Daria Morgendorffer. Quando poderemos ouvir você na Família Addams?
Outubro de 2019. Você vai adorar. Eles fizeram um trabalho realmente inteligente ao escolher a Família Addams para ter um papel social. Ele realmente se concentra em como é eles serem imigrantes e as pessoas em sua cidade dizendo para eles saírem porque são diferentes, apesar de provavelmente serem a família mais saudável e funcional de lá. Tem um giro muito interessante e moderno.
Esta entrevista foi editada e condensada para maior clareza.
Fonte – Tradução: Bruna Rafaela – CMBR