Bastidores de “Carrie – A Estranha” e entrevista à Rolling Stone Brasil

O filme “Carrie” estreia no Brasil na próxima sexta-feira (06 de dezembro), e a edição de novembro da revista Rolling Stone Brasil traz um pouco dos bastidores do longa, com uma entrevista de Chloë e comentários da atriz Julianne Moore e da diretora Kimberly Pierce. Leia a seguir.

Constantemente escalada para papéis intensos, Chloë Grace Moretz se firma como grande talento da nova geração de Hollywood

Mascando chiclete sem parar e com uma expressão de leve tédio no rosto, Chloë Grace Moretz está em cima de um palco de ginásio, com dezenas de adolescentes a observando, todos em traje de gala. Parece uma festa de escola, mas é o registro de uma icônica cena de “Carrie – A Estranha”, filme inspirado no livro de Stephen King sobre uma menina paranormal que se vinga dos colegas após sofrer bullying.

A história, filmada por Brian De Palma em 1976, agora ganha uma nova versão nos cinemas (com estreia prevista para dezembro, no Brasil), com direção de Kimberly Peirce, de “Meninos Não Choram”.

Depois de um breve sinal da diretora, a atriz endireita os ombros e estampa um sorriso constrangido, enquanto a pequena multidão a aplaude. E aí acontece o que todos já esperavam: litros de sangue caem do teto. Ela entra em pânico enquanto a plateia ri descontroladamente, caçoando da situação. “Foi a coisa mais horrível de todos os tempos, a sensação foi… eu queria morrer”, conta Chloë, meses depois, já mais relaxada em um resort de Cancún, no México. “Todo mundo rindo de mim. Eu sabia que era da personagem, não de mim, mas mesmo assim. Quando voltei para o meu quarto, chorei. Muito. Nunca me senti tão sozinha, isolada”. 

Aos 16 anos, Chloë teve um ano que nem perto é típico das adolescentes. Entre outras coisas, ela voltou a assumir a máscara da precoce e boca-suja Hit-Girl, em “Kick-Ass 2”. É de se presumir que a intérprete de uma heroína que – sozinha – consegue exterminar esquadrões inteiros de bandidos possa impor respeito, mas essa imagem de durona não se transporta para um lendário reino sem leis: a internet. A fase de crescimento é dura para todo mundo, e as atrizes não são exceção. Como toda adolescente contemporânea, Chloë é ativa nas redes sociais desde os 11 anos, quando criou perfis escondida da mãe. E agora tudo está mudando.

“Recentemente, chegando perto dos 18 anos, muita coisa tem acontecido na minha vida e penso em abandonar algumas redes”, Chloë lamenta, baixando o tom da voz com tristeza. “Não quero entrar em detalhes, porque é o tipo de coisa que só piora se você falar a respeito… Mas são pessoas aleatórias falando da minha família, julgando-a. Para que vou me sujeitar a isso? Já sou julgada demais em revistas – quando você já é fiscalizada pelo que veste, não quer ser julgada por causa de sua família ou animais de estimação. Sabe?”

O animal em questão é uma cachorra da raça cão de crista chinês – além de ter poucos pelos, a da atriz ainda não tem dentes, está velha e tem muitos problemas por ter nascido de um cruzamento entre parentes. “Dá para imaginar o tipo de comentário que fazem sobre ela no Instagram. Coisas do tipo ‘Ela deveria estar morta'”, conta, com cara de nojo. “Uau! É um cachorro! Percebi que essas plataformas de compartilhar fotos e vídeo mostram demais. É bom dar um pouco [aos fãs], como no Facebook ou Twitter, mas nunca demais. E percebi isso da forma mais difícil”.

De volta ao set de “Carrie”, Chloë parece transitar bem entre os companheiros de elenco – apesar de estar sempre ladeada por um grupo fixo de amigos. Eles são claramente os mais populares do ambiente. É quase como um dia de aula, algo que a garota não presencia há muito tempo, já que estuda em casa. “Não frequento a escola desde a 4a série, mas ainda assim tenho de lidar com muita coisa [relacionada àquele universo]”, diz, referindo-se especialmente à percepção que as pessoas têm a respeito dela. “Olham para mim e pensam: ‘Ela tem fãs, todo mundo a ama!’ Mas isso só me traz mais uns mil problemas, porque sou julgada imediatamente”. Nem a vida amorosa escapa desse processo. “Caras que conheço… Nunca dá para saber as intenções deles. Sem contar que os pais deles sempre vão achar que sou uma bêbada cocainômana – e não sou esse tipo de gente. Tenho sempre de me esforçar mais para apagar essa imagem preconcebida. ‘Não sou como você acha que sou!’, ‘Não sou pretensiosa!’ Tenho de lidar com tudo isso. É interessante, isso te coloca em uma posição estranha”.

“Ela é ótima”, diz Julianne Moore – que interpreta a mãe fanática religiosa em “Carrie” – sobre os problemas enfrentados pela jovem atriz neste ponto da vida. “Ela é divertida, inteligente, amável e madura – mas eu sempre fazia questão de lembrá-la de que eu sabia quantos anos ela realmente tinha“. A diretora, Kimberly, concorda, complementando que o talento de Chloë é muito acima da média. “Imagine quantas meninas não tentam ser atrizes todo ano. E ela é altamente requisitada – porque sempre faz um trabalho consistente, ótimo. Ela tem uma presença cinematográfica, magnífica”.

Mas, por um tempo, Chloë nem foi a principal artista da família. O irmão dela, Trevor Duke-Moretz, hoje com 27 anos, foi o responsável por fazer a família inteira se mudar de Atlanta, no sul dos Estados Unidos, para Nova York, onde ele estudou atuação. O efeito de todo processo na irmã mais nova foi gigantesco. “Aos 5 ou 6 anos, eu ficava escutando ele fazer monólogos no nosso apartamento”, ela conta. “Acabava decorando tudo e recitando para a família. Eu nem sabia o que era aquilo, mas sabia que era o que queria fazer. Minha mãe era contra, só que no fim deixou”. Mais uma mudança foi feita, dessa vez para Los Angeles, e Trevor acabou se tornando o instrutor da irmã.

Chloë começou fazendo pequenas participações em séries de TV e, em 2005, foi escalada para um papel em um filme que definiria seu futuro: o remake de “Horror em Amityville”. O talento da garota para interpretar personagens perturbados e sanguinolentos ficou óbvio nos anos seguintes, em produções como “O Olho do Mal” (2008), “Deixe-Me Entrar” (2010) e “Sombras da Noite” (2012). “Espero não fazer sempre o mesmo personagem!”, ela diz, ao mesmo tempo exaltada e sorridente. “Eu escolho os papéis que me empolgam. Fico dizendo que me sinto excluída, mas a minha família me ama demais, somos todos muito amigos. Estou em um ambiente muito seguro, sabe? Gosto de escolher personagens que são o oposto disso”. A proteção do lar também deve garantir que a conclusão dos estudos de Chloë seja bem menos sangrenta que a de Carrie – e bem menos emocionante. “Minha formatura provavelmente será na sala de casa”, ela explica rindo, “dançando com o meu computador”.